quinta-feira, 20 de agosto de 2009

OPINIÃO PÚBLICA

OPINIÃO PÚBLICA

“O Rei fartou-se de reinar sozinho e decidiu partilhar o
poder com a Opinião Pública.
- Chamem a Opinião Pública – ordenou aos serviçais
Eles percorreram as praças da cidade e não a
encontraram. Havia muito que a opinião deixara de
freqüentar os lugares públicos. Recolhera-se ao beco
sem saída, onde furtivamente, abria só um olho, isso
mesmo lá de vez em quando.
Descoberta, afinal, depois de muitas buscas, ela
consentiu em comparecer ao Palácio Real, onde sua
Majestade, acariciando-lhe docemente o queixo, lhe
disse:
- Preciso de ti.
A Opinião muda como entrara, muda se conservou.
Perdera o uso da palavra ou preferia não exercitá-la. O
rei insistia, oferecendo-lhe sequilhos e perguntando o
que ela pensava disso e daquilo, se acreditava em
discos voadores, horóscopos, correção monetária, essas
coisas. E outras. A Opinião Pública abanava a cabeça:
Não tinha opinião.
- Vou te obrigar a ter opinião – disse o Rei, zangado. –
Meus especialistas te dirão o que deves pensar e
manifestar. Não posso mais reinar sem teu concurso.
Instruída devidamente sobre todas as matérias, e tendo
assimilado o que é preciso achar sobre cada uma em
particular e sobre a problemática geral, tu me serás
indispensável.
E virando-se para os serviçais:
-Levem esta senhora para o curso intensivo de
Conceitos Oficiais. E que ela só volte aqui depois de
decorar bem as apostilas.” (DRUMMOND, 1985)

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