quarta-feira, 7 de abril de 2010

O DESAFIO DO COTIDIANO

O DESAFIO DO COTIDIANO

O diferente nos "desestabiliza" por expor o contraditório, muitas vezes mexendo com as nossas construções no campo do comportamento, do pensamento, dos sentimentos, dos valores... Entretanto, a beleza do jardim está na diversidade dos tipos e no colorido das flores. A riqueza de uma paisagem deve-se à diversificação de seu relevo e sua vegetação; caso contrário, teremos uma paisagem monótona e cansativa.. A maravilha do arco-íris repousa sobre seu multicolorido.
Na diferença reside, portanto, o princípio da complementaridade e é exatamente isso que vai temperando as convivências e tornando-as estimulantes. Se todos pensassem igual, tivessem os mesmo hábitos, gostassem das mesmas cores, seria uma convivência enfadonha, sem desafios e sem crescimento interior.
A complementação entre os diferentes evidencia-se bem, na dualidade dos gêneros humanos: homem e mulher, cuja união não é uma "fusão", pois cada qual continua portador de sua individualidade. Uma união conjugal não traduz a anulação do que cada um realmente é. Com o tempo, as diferenças começa a aparecer, gerando – muitas vezes – desentendimentos, conflitos e crises que exigirão maturidade psicológica de ambos os envolvidos para serem equacionadas.
Outra questão é: como fazer da coexistência humana uma integração saudável e realizadora?
Parece-nos que essa questão esteve sempre presente no desenrolar da história do pensamento humano. Filósofos, profetas, religiosos, buscaram edificar postulados e doutrinas visando à equação dessa dúvida atormentadora. Jesus, todavia, formulou uma proposta psicológica altamente profunda, capaz de transformar as relações humanas para um nível maior de plenitude: "Ama o teu próximo como a ti mesmo". Com essa máxima, ofertou-nos um roteiro eficaz, capaz de integrar positivamente os seres humanos, mesmo com suas diferenças.
Devemos começar a tratar com maturidade a questão das diferenças, quer sejam elas: ideológicas, religiosas, culturais, profissionais, emocionais, educacionais, etc. A imaturidade humana de intolerância com relação às diferenças tem plasmado antipatias, ressentimentos, divórcios, brigas, homicídios, guerras e a violência em geral.
O desafio do cotidiano está consubstanciado na arte de bem se relacionar com os outros. Sabermos administrar tal desafio significa trabalharmos para a construção de uma vida mais saudável e realizadora.. A palavra respeito (respicere, em latim) significa "olhar para o outro" com o sentimento de consideração. Não é preciso concordar sempre com as outras pessoas, mas é fundamental o respeito às opiniões e aos modos de vida distintos do nosso. É nesse sentido que se fundamenta a tolerância como virtude humana. Entretanto, tolerar não pressupõe ser conivente com o erro, mas compreender a condição de humanidade do outro.
As críticas corrosivas do cotidiano evidenciam a falta de maturidade, sensibilidade e consciência da criatura humana, que se permite dar vazão aos seus próprios impulsos negativos e instintivos, dificultando o florescimento das emoções nobres que integram e aproximam os indivíduos no ideal do belo.

ALMEIDA, Jerri Roberto. Filosofia da Convivência. 2. ed. Porto Alegre, RS: AGE, 2006. p. 27-28.

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